Escrever sobre a ditadura é um pouco complicado pois trata-se de uma época histórica que muitos não querem recordar e preferem abafar, tanto para livrar de suas responsabilidades quanto para esconder seus ecos nos dias atuais.
A Ditadura Militar no Brasil foi financiada pelos EUA com o intuito de conter qualquer ideal que divergisse ou conflitasse com o modelo capitalista, teve seu início em 1964. Na ditadura, os meios de comunicação foram fortemente manipulados pelo autoritarismo e pela censura. Nossos pais e avós vivenciaram dias com sentimentos de medo e culpa constante, onde muitas coisas tinham que ser feitas às escondidas, com o risco de serem pegos, presos, torturados ou mortos. Quanto vale a vida mesmo?
Alguns religiosos, estudantes e comunistas tentaram se unir para estabelecer meios de ação contra esse abuso de poder. Enquanto isso outros faziam de tudo para esconder os acontecimentos, um juiz filho da puta censurou registros de torturas verbais, físicas e psicológicas de pessoas que apanharam peladas e sofreram choques elétricos. Algumas pessoas preferiram optar pelo suicídio a viver nessa condição de coisa.
Muitos desses fatos ainda se repetem com outras roupagens, trata-se de como a herança histórica da ditadura afeta nosso dia-a-dia: toda a repressão gerou uma sociedade medrosa, despolitizada, alienada e apática. Vivemos a ditadura ideológica da exclusão, da moda, do preconceito e da discriminação, da opressão indireta, dos olhares repressores, do consumo que nos consome. Somos excluídos e marginalizados do direito e acesso às leis que nos garantem a vida e a dignidade, em nossa sociedade o direito serve aos que possuem dinheiro e instrução acadêmica, a democracia é fachada e não praticada.
Portanto, é imprescindível que haja uma conscientização popular de nossa história e que seja exercida a justiça através da punição de todos os membros que estiveram envolvidos na ditadura e na cessação de qualquer prática de autoritarismo. Precisamos tirar a idéia de poder que nos foi ensinada como característica dos policiais, da mídia, dos professores, dos padres e juizes. E ter a consciência de que todos os espaços são políticos – portanto de debate e modificação: a igreja, a escola, a empresa, a rua, o clube, a praça, o bar, etc.
É preciso muito cuidado com idéias de que o “sistema” ou a “sociedade” são instancias separadas de nós mesmos e de nossa vida. Há frases que favorecem a apatia política, tais como: “é tudo culpa do sistema”, ou: “a sociedade é assim mesmo”. Oras, a sociedade somos nós: cada um faz parte de sua construção, e o sistema é alimentado pelos nossos comportamentos; podendo ser aceito ou negado, de acordo com nossa prática diária.
Aos poucos vamos entendendo que não há deus, mas que estamos sozinhos no mundo. Isso pode causar um mal-estar ou medo inicial, mas nos permite perceber que somos nós que fazemos o mundo com a nossa cara, desde que sejamos autênticos e participativos – exigindo o que é necessário e se negando a fazer o que não concordamos.
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